terça-feira, 29 de outubro de 2019

O Brasil à beira do precipício

Há um ano, em 28 de outubro de 2018, era eleito o atual presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em segundo turno, derrotando o candidato de esquerda, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT). Com 55% dos votos, a extrema-direita voltava a governar, mais de três décadas após o fim da ditadura dos generais, estabelecida em 1964.
O deslocamento político foi notável. Desde o fracasso de Fernando Collor, primeiro presidente eleito diretamente depois do golpe militar, o bloco conservador tivera como núcleo duro uma coalizão entre o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB) e o antigo Partido da Frente Liberal (PFL), atualmente denominado Democratas (DEM), nascido de uma costela do partido da ditadura.Há um ano, em 28 de outubro de 2018, era eleito o atual presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em segundo turno, derrotando o candidato de esquerda, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT). Com 55% dos votos, a extrema-direita voltava a governar, mais de três décadas após o fim da ditadura dos generais, estabelecida em 1964.
A força propulsora dessa coalizão, porém, esgotou-se na virada do século. Os efeitos de médio e longo prazos do neoliberalismo —recessão endêmica, desemprego estrutural, desidratação dos serviços públicos, aguçamento da desigualdade social, crescimento da pobreza e da miséria— empurraram o pêndulo da história em favor do PT de Luiz Inácio Lula da Silva, que ganharia as eleições presidenciais de 2002.
Durante os treze anos de governos petistas, somando os mandatos de Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016), o país começou a experimentar outra política econômica, alicerçada sobre programas distributivos e investimentos públicos favoráveis a mercado interno de massas, com expressiva elevação dos salários, sob reforçada regulação do Estado.
A burguesia brasileira, forjada por acintoso padrão de exploração do trabalho, suportou esse modelo em sua fase expansiva, até que os efeitos da crise mundial de 2008 travassem a economia brasileira. A alta dos salários, com a queda da taxa de lucro, até então era compensada pela expansão do consumo doméstico e o dinamismo das exportações de commodities, além de ganhos financeiros patrocinados por uma ortodoxa política monetária.
Desde 2010, no entanto, o empresariado foi paulatinamente considerando insuportável o petismo, incluindo aqueles setores que se beneficiaram de soluções decididas por Dilma Rousseff para conter a retração produtiva e a radicalização do choque distributivo. Os investimentos privados foram despencando, apesar da ampliação de subsídios estatais, embolsados como recuperação de margem, com forte custo fiscal. A queda da taxa de juros, entre 2012 e 2013, ao contrário de servir como estímulo, foi percebida como erosão de receita financeira.
Reeleita em 2014, a presidente viu-se cercada por uma escalada que já pedia sua cabeça. Sem maioria parlamentar, absorveu parte do programa neoliberal dos opositores, tentando deter ou abrandar seus ataques. Tudo deu errado: os inimigos a sentiram vulnerável, redobrando os esforços de guerra, enquanto passou a reinar confusão, divisão e desânimo nas bases progressistas.
Os resultados na economia também foram trágicos. Frente a relevantes sinais de desaquecimento desde 2013, medidas como a abrupta elevação da taxa de juros e o corte de benefícios sociais, adotadas no final de 2014, significaram apagar incêndio com jatos de gasolina. O país entrou em recessão, o desemprego disparou, as camadas médias consolidaram seu giro conservador e parte das classes trabalhadoras abandonou o PT. O desfecho seria o golpe parlamentar de 2016, com a derrubada de Dilma Rousseff.
Estava em curso uma ofensiva reacionária, perante a qual o petismo se viu aturdido e indefeso. Não pairavam ameaças frontais ao capitalismo e ao seu poder político, mas as classes dominantes queriam derrubar qualquer obstáculo, pelos meios que fossem necessários, para a adoção de um programa que revitalizasse prontamente a rentabilidade relativa e absoluta de seus negócios. A agenda deixava ser a versão moderada dos anos 90, para assumir a feição de um neoliberalismo sem peias, cujo modelo confesso referencia-se no Chile de Pinochet.
Não há compatibilidade possível entre esse caminho e a ordem democrática. A derrubada de uma presidente legítima se associa à Operação Lava Jato, desmascarada pelas mensagens publicadas por The Interceptcomo elementos de um golpe de tipo novo, por dentro das instituições, com um papel destacado do sistema de justiça e do parlamento. A prisão do ex-presidente Lula, através de uma fraude judicial, foi o corolário indispensável para garantir o controle do processo eleitoral de 2018.
Os velhos partidos conservadores, à frente o PSDB e o DEM, lideraram o movimento golpista com a missão de dar vida às reformas exigidas. Naufragaram, contudo, nas eleições presidenciais. Representavam o regime político que ajudaram a enterrar, contra o qual havia se jogado a Operação Lava Jato para destruir o PT e Lula, e foram abandonados pelos setores sociais cativados pelo discurso de ruptura do sistema como a única saída para a prosperidade capitalista.
O principal filho e herdeiro dessa contrarrevolução preventiva é Jair Bolsonaro. Medíocre e aloprado, representa o rosto sem maquiagem de parte expressiva das elites brasileiras, formadas no caldo do racismo, da misoginia, do ódio aos pobres e da subserviência às nações imperiais. Como outras vezes na história, diante de crise geral das instituições, a extrema-direita emerge como solução bonapartista, abraçada à exploração dos preconceitos e das crenças mais atrasadas para constituir base de massa à uma variável neofascista.
Diante da incapacidade do conservadorismo tradicional em derrotar estrategicamente as forças de esquerda e os movimentos populares, criando as condições políticas para viabilizar o programa neoliberal, Bolsonaro irrompeu como hipótese plausível, mesmo exibindo contornos indefinidos, de mudança do regime político, atraindo novamente as Forças Armadas para o comando do Estado.
As dificuldades do governo em consolidar essa opção, em meio a uma grave crise econômica e social, são ingredientes de um cenário marcado pelo que Antonio Gramsci chamava de “equilíbrio catastrófico”, caracterizado pela incapacidade de qualquer das forças políticas ou classes sociais estabelecer sua hegemonia sobre as demais. Esse ambiente, longe de afastar a hipótese autoritária, costuma ser o terreno no qual dão frutos soluções de tipo bonapartista.
As frações do bloco conservador que divergem dessa alternativa, a ela estão acorrentadas, mesmo que provisoriamente e a contragosto, porque partilham o mesmo projeto nacional, a mesma política econômica e a mesma lógica golpista. Sua oposição é restrita e débil, limitada às manobras mais extravagantes do presidente, em uma luta permanente para domesticá-lo, e seu limite é especular acerca de um bolsonarismo sem Bolsonaro.
A saída democrática depende da derrota do programa neoliberal, que está dilacerando países da região. O Brasil somente poderá sair da beira do precipício quando as correntes de esquerda forem capazes, associadas a um movimento de desobediência civil como o que está sacudindo o Chile, de apresentar uma alternativa de governo que construa um novo regime constitucional, soldado pela distribuição de renda, riqueza e poder.

Protestos no Chile continuam mesmo com troca de ministros; cidades registram confrontos

Policiais jogam água para dispersar manifestantes que protestavam no centro de Santiago, capital do Chile, nesta segunda-feira (28) — Foto: Esteban Felix/AP Photo

Manifestantes voltaram às ruas do Chile nesta segunda-feira (28), mesmo após o presidente Sebastián Piñera anunciar a troca de oito ministros do governo. Houve confrontos em Santiago e em outras cidades do país.
Na capital, por causa dos tumultos, o metrô fechou as portas mais cedo e vai reabrir às 7h na terça-feira – uma hora mais tarde do que o normal. Alguns manifestantes voltaram a incendiar estações e a fazer barricadas nas ruas da cidade.
Também em Santiago, um incêndio de grandes proporções atingiu um centro comercial na principal avenida da cidade a 850 metros do Palácio La Moneda, sede do governo. Não se sabe, entretanto, se o fogo tem relação com os protestos que ocorrem na capital chilena.
Manifestante joga bicicleta em fogueira de barricada em Santiago, no Chile, nesta segunda-feira (28) — Foto: Edgard Garrido/Reuters

Manifestante carrega bandeira chilena em frente a barricada no centro de Santiago, no Chile, nesta segunda-feira (28) — Foto: Edgard Garrido/Reuters
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/10/28/protestos-no-chile-continuam-mesmo-com-troca-de-ministros-cidades-registram-confrontos.ghtml

Terremoto deixa mortos e feridos nas Filipinas

Um terremoto de intensidade 6,6 na escala Richter atingiu o sul das Filipinas na madrugada desta terça-feira (29, horário local; cerca de 22h de segunda-feira no horário de Brasília). Cinco pessoas morreram e ao menos 70 ficaram feridas.
De acordo com informações do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), o epicentro foi a 15,3 km de profundidade, a cerca de 100 km da cidade de Davao, a maior da ilha de Mindanao, com 1,6 milhões de habitantes.
A foto mostra um prédio em Magsaysay danificado pelo terremoto que atingiu as Filipinas nesta terça-feira (29). — Foto: Anthony Allada/AFP

Um dos mortos é um adolescente, atingido pela parede de uma escola enquanto tentava deixar o local. Outra vítima fatal é um homem de 66 anos, que morreu soterrado em sua casa. Também morreram um pai junto com o filho em Arakan e uma mulher grávida, de 23 anos, em Tulunan, segundo informações da agência EFE.
Várias escolas e prédios foram danificados. A prefeita de Davao, Sara Duterte-Carpio, ordenou o cancelamento de todas as aulas em escolas públicas e privadas, dizendo que o terremoto "pode ter causado danos estruturais e elétricos a prédios e casas" na cidade, segundo o "New York Times". Duterte-Carpio é filha de Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas.
Crianças e professores sentam do lado de fora de uma escola destruída depois do terremoto desta terça-feira (29) em Tulunan, nas Filipinas. — Foto: Handout / Chyna Nicole Via / AFP
Foi o segundo tremor intenso a atingir Mindanao em duas semanas. No dia 16 de outubro, um terremoto de intensidade 6,3 matou 7 pessoas e deixou mais de 200 feridas, segundo a agência de desastres das Filipinas.
"A localização é quase a mesma de 16 de outubro", disse Erlinton Olavere, especialista em pesquisa do Instituto Filipino de Vulcanologia e Sismologia. "Existe uma falha" na área, afirmou ao "New York Times", acrescentando que "os movimentos ainda estão em andamento".
As ilhas das Filipinas estão situadas sobre a região do Anel de Fogo do Pacífico, uma zona de grande atividade sísmica e vulcânica, que registra milhares de terremotos por ano, a grande maioria de intensidade baixa e moderada.
Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/10/28/terremoto-atinge-as-filipinas.ghtml

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